09/03/2021

Resenha do Livro - Minha vida de Menina

 



“Minha Vida de Menina” foi uma das leituras mais leves e divertidas de 2020. Você pode conferir as melhores leituras neste post aqui. Eu recomendo, principalmente para quem quer começar a desenvolver o hábito da leitura.


A obra fez parte da lista de livros da FUVEST entre os anos de 2017 e 2020, surpreendendo e agradando muitos professores de literatura. Esse registro biográfico é importante tanto para a história do Brasil, por conta das informações daquele período, quanto para a literatura nacional. Vários autores se impressionaram com a obra, dentre os quais eu destaco Guimarães Rosa.


Esse é um livro que já nasceu clássico, é uma obra muito estudada. Em uma pesquisa rápida que fiz no Google, só na primeira página encontrei 5 dissertações de mestrado e uma tese de doutorado, para vocês verem o nível de importância dessa obra.


“Minha vida de Menina” foi escrita por Helena Morley, que é o pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant, ela nasceu em Diamantina, cidade do interior de Minas Gerais, em 1880. A 1ª edição dessa obra foi publicada em 1942, quando a autora tinha 62 anos. Esse livro é parte do diário de Helena escrito de janeiro de 1893 até dezembro de 1895, quando ela tinha entre 13 e 15 anos.


Helena é filha de Alexandre e Carolina. Alexandre era de família inglesa e protestante, Carolina, mineira e católica. Ela teve 3 irmãos, Renato, o primogênito, Luisinha, irmã mais nova que ela, e Joãozinho, o caçula. A família de sua mãe era da região de Diamantina, onde moravam a maioria dos seus 11 tios e os inúmeros primos com quem ela convivia diariamente.


Nesta época o Brasil tinha acabado de abolir a escravatura, fato que ocorreu em 1988 e o atual presidente da república era Floriano Peixoto. Diamantina fica cerca de 290 km de Belo Horizonte, e se desenvolveu a partir das lavras de garimpo de diamante no início do século XVIII. No período em que Helena viveu, já não se encontrava mais diamantes como antigamente.


A sociedade brasileira “livre” me chamou bastante a atenção. Livre porque como os antigos escravos foram libertos, mas sem nenhum auxílio, grande parte dessas pessoas continuaram morando nas senzalas. A avô de Helena continuou com alguns negros na chácara, pois eles não tinham para onde ir.


Alguns tios da Helena mantinham a ideia de que o trabalho deveria ser feito só por negros e não deixavam os filhos trabalharem, queriam que seus filhos virassem doutores, então não permitiam que eles carregassem nenhum pacote na rua, por menor que fosse. O pai de Helena já não pensava assim, falava que o trabalho é honroso, fazia com que todos trabalhassem, cada um na sua atividade.


O que dá para perceber a partir dos registros de Helena é que ela era uma menina muita esperta e criativa, com muitas ideias e questionamentos. Ela não ia bem na escola, mas tinha uma sagacidade para vida. Além de ser uma menina com um coração muito bondoso.


O pai de Helena estava sempre investindo todo o pouco dinheiro que eles tinham na abertura de novas lavras, procurando diamantes, mas nunca encontrava. Sempre que conseguia algum dinheiro, continuava gastando no garimpo. Por conta disso, a família passava por algumas necessidades e acabava dependendo da avó materna, que possuía uma condição melhor. Isso gerava alguns conflitos, o que é comum na maior parte das famílias.


Toda família possui membros que são mais próximos do que outros, tem sempre o queridinho da mamãe e Helena era a queridinha da vovó Theodora. Ela sabia disso, aproveitava um pouco, mas também reclamava de tanta atenção: Mudança na rotina quando ficava na casa da avó, a vontade que ela coma mais para poder engordar, e a cobrança em algumas questões religiosas.


No casarão de dona Theodora, ocorriam as reuniões de família. Nas entradas do diário são contadas várias dessas reuniões familiares e as brincadeiras de Helena com seus primos. Essa é uma das partes mais característica de Minas Gerais, a meu ver. Família e agregados reunidos, comida gostosa e muitos causos para contar. Sei que isso pode existir em outros locais, mas é que em Minas Gerais isso é generalizadamente comum.


Helena era “Normalista” e uma de suas tias, a tia Madge, irmã de seu pai, estava esperando que ela se formasse para trabalhar como professora. Essa tia Madge é um caso de amor e ódio e é muito engraçado ver a relação das duas: A tia querendo fazer o bem para a sobrinha e Helena achando que algumas coisas eram implicações.


Helena não era uma aluna de notas altas, gostava mais de estar na rua brincando e passeando, do que estar em casa estudando. O diário foi um incentivo do professor de português que sempre pedia que os alunos escrevessem uma “redação”, que poderia ser uma descrição, carta ou narração. Helena dizia que poderia sair da escola sem saber matemática, química e física, mas não sairia sem saber escrever.


Esta menina era muito questionadora, no livro vamos nos deparar com várias questões nos diferentes aspectos da vida. Por exemplo no âmbito religioso ela perguntou para a sua avó:

“Vovó, já tem tanto tempo que vovô, meus tios e esta gente toda morreu! Pois se eles estão esse tempão todo no purgatório, já devem estar acostumados, e não adianta a gente ficar até hoje rezando de joelhos tanto tempo, como Chininha quer”.


Essa leitura funciona como uma viagem cultural. Através desse livro você poderá conhecer a vida mineira do século XIX. Como era a organização da sociedade, o papel do homem, da mulher, das crianças e até mesmo da igreja. São muitos os costumes que conhecemos e alguns costumes que perduram até hoje.  


No prefácio da 1ª edição a autora deixa uma mensagem para suas netas e que serve para todos nós:

Agora uma palavra às minhas netas. — Vocês que já nasceram na abastança e ficaram tão comovidas quando leram alguns episódios de minha infância, não precisam ter pena das meninas pobres, pelo fato de serem pobres. Nós éramos tão felizes! A felicidade não consiste em bens materiais mas na harmonia do lar, na afeição entre a família, na vida simples, sem ambições — coisas que a fortuna não traz, e muitas vezes leva.


São muitos os relatos divertidos aqui e creio que é possível através dessa leitura, se divertir, alegrar, aprender e refletir. Tudo isso a partir da inocência de uma criança.

Resenha escrita por

Wesley Ximenes

 

Livro – Minha vida de menina

Autor – Helena Morley

Editora – Companhia de Bolso

Páginas – 325



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