01/03/2021

Resenha do Livro - O Ceticismo da Fé (Rodrigo Silva)

 



Deus existe ou seria a fé religiosa um delírio universal?

 

O Ceticismo da Fé foi escrito por Rodrigo Silva, graduado em Teologia e Filosofia. Ele também possui mestrado e doutorado em Teologia, especialização em Arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém e doutorado em Arqueologia Clássica pela USP.

 

O doutor Rodrigo Silva é curador do Museu de Arqueologia do UNASP e apresentador do documentário Evidências, transmitido pela TV Novo Tempo.

 

O ceticismo da fé era um livro que eu queria muito, li em 2020 e foi uma das minhas melhores leituras. Quando eu olhava para esse livro grosso de 580 páginas, eu imaginava que seria uma leitura difícil, que seria necessário muito tempo para entender... Mas não foi.

 

Nessa leitura eu senti como se tivesse batendo um papo muito agradável com o autor. E esse foi o propósito dele, falar de um conteúdo sério que aborda religião e filosofia, mas de forma leve, amigável, sem preconceitos, propondo um diálogo com o interlocutor.

 

Esse livro é indicado para religiosos que querem conhecer bases filosóficas e históricas para alicerçar suas crenças. Também é indicado para ateus, que podem ler com o objetivo de refinar suas próprias argumentações.

 

O insight para escrever a obra partiu de uma afirmação de René Descartes que diz o seguinte: “o homem deve desconfiar de tudo para poder acreditar em alguma coisa”. E assim o livro foi construído, partindo do princípio da dúvida, traçando argumentos para sustentação da fé em Deus.

 

Mas não pense que esse livro é sobre um teólogo tentando provar a existência de Deus, nada disso... Até porque Deus é improvável, se Deus fosse provável ele estaria mais para teorema do que para pressuposto, logo caberia dentro da mente humana e não seria grande o bastante para ser Deus.

 

Isso aqui é uma conversa sincera e aberta, sem fugir dos grandes problemas que envolvem a fé em Deus, como por exemplo: “Porque um Deus de amor matou e mandou matar tanta gente no Antigo Testamento?” “Se Deus existe e é amor, porque ele permite tanto sofrimento no mundo?”.

 

O autor não tem medo de tocar em problemas sérios que envolvem os próprios religiosos, como a corrupção de pastores que muitas vezes parecem trabalhadores do supermercado da fé em que curas e bençãos são prometidas em troca de dízimos e ofertas. Ele fala sobre as complicações das comunidades de crentes, as igrejas: “a igreja pode ter um papel de relevância ou obstáculo no diálogo com aqueles que não creem”.

 

Isso me lembrou uma ideia do professor Mario Sérgio Cortella em que ele diz: “Religião não é coisa de gente tonta, mas de gente. Tem gente que é tonta e gente que não é. Existe gente tonta na docência, no jornalismo, na política.”

 

Como o Rodrigo escreveu: “Há muitos descrentes honestos e religiosos perigosíssimos”. Se a sua crença em Deus não faz de você uma pessoa que busca a integridade, não sei que diferença essa crença faz no mundo.

 

É fácil acompanhar a linha de raciocínio do autor, mesmo falando sobre um assunto tão complexo ele tem uma linguagem muito clara!

 

Eu destaco aqui duas partes que foram as minhas favoritas no livro! A primeira diz respeito ao capítulo sobre diferença entre ser existir. Parece simples dizer: Deus existe ou Deus não existe. Mas o que é existir? Como sabemos que as coisas existem? Por que vemos? Tem muitas coisas que não vemos, mas que existem. Eu gostei muito dessa discussão e não vou entrar em detalhes para que vocês ficarem curiosos e lerem o livro.

 

A minha outra parte favorita é quando ele fala sobre a Bíblia, porquê temos motivos para acreditar. Dentre os inúmeros motivos que envolvem fatores históricos, ele levanta a discussão sobre a Bíblia ser um Bestseller ou um Clássico.

 

Bestseller, significa mais vendido, é um livro considerado extremamente popular, um livro feito para agradar um público chamado pelos críticos de semicultos. A Bíblia é o livro mais vendido, portanto um bestseller; porém ela não tem características de um bestseller, Rodrigo Silva a chama de “bestseller inconteste”. Levou tempo demais para ser escrita, é extremamente inconsistente em termos de estilo redacional e muito variada em termos de qualidade, o que já era de se esperar já que foi escrita por mais de 40 autores. É consenso que o grego utilizado para escrever a bíblia não foi o grego clássico, e sim a forma mais comum, sem muita sofisticação.

 

Um livro clássico é aquele que perpassa através do tempo. Os bestsellers vendem muito mais, enquanto o clássico vende menos, porém perdura mais tempo na cultura. Além disso, livros clássicos possuem um apelo estético e uma mensagem significante. É o tipo de história que chama primeiro a atenção dos intelectuais antes de chamar a atenção do povo. De forma alguma é escrito de uma maneira gramaticalmente pobre. A Bíblia não se encaixa nesses requisitos, mas ela tem perdurado através do tempo.

 

Eu aprendi muito com este livro. Temos aqui uma busca histórica e antropológica sobre as origens do Ateísmo. O que você acha que é mais antigo a crença ou a descrença em Deus? Pensando de uma forma lógica já dá para saber que a crença em Deus é mais antiga, porque primeiro tem que haver uma afirmação para que você possa negar. Não tem como você negar algo que não foi afirmado anteriormente.

 

Tem um capítulo cujo título é: “Ninguém escapa da transcendência”. Esta parte fala como nós seres humanos temos sede por significado. Crentes ou descrentes em algum momento da vida pensam em qual é o sentido da existência. Será que a vida é apenas o intervalo entre duas datas: nascimento e morte? Qual o sentido disso?

 

Nós não somos imortais, no entanto mesmo assim não queremos deixar de existir... Crentes ou não, todos nós buscamos uma alternativa para a morte, tentamos adiá-la ao máximo.

 

O que me lembra uma afirmação do meu autor favorito o C. S. Lewis: “As criaturas não nascem com desejos, a menos que exista satisfação para eles. Um bebê sente fome: bem, existe uma coisa chamada comida. Um patinho quer nadar: bem, existe uma coisa chamada água. (…) Se eu encontrar em mim mesmo um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que fui feito para outro mundo.”

 

A crença ou a descrença em Deus não é algo simples, a menos que você fique na superficialidade das ideias, por isso um livro como esse é tão importante. Ele parte da dúvida, do questionamento. Tanto para crentes como ateus é necessário ter bases sólidas para firmar nossas posições. E também para sabermos silenciar e dizermos simplesmente “não sei” ao invés de falarmos bobagens.

Resenha escrita por 

Elen Ximenes

 

Título: O Ceticismo da Fé

Autor: Rodrigo Silva

Editora: Ágape

Número de Páginas: 589


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